segunda-feira, 13 de setembro de 2010

ASSIM É NANA

Naná é uma menina de 8 anos, mas demonstra ter bem mais idade. Por morar com a mãe na fazenda, sempre a ajudou nas tarefas que lhe eram possíveis, como dar comida aos animais, plantar, adubar, regar e colher os legumes e as verduras da horta, a limpar a casa e até a lavar e passar roupas. É claro que a mãe de Naná não a deixava passar com ferro muito quente, porque, mesmo prendada, Naná ainda mantinha um espírito de criança - e criança bem estabanada por sinal.

Ela conhecia muitos chás, muitas sopas e também muitos doces que sua mãe, aos poucos, lhe ensinava. Sabia as propriedades de muitas plantas e alimentos, conhecia as flores e sabia a hora do dia só pela altura do Sol. Sabia onde era norte e sul porque no topo da casa da fazenda havia uma rosa dos ventos que sempre esteve lá.

De esperta que era, a menina conhecia os caminhos da fazenda, os atalhos para o lago e onde achar as flores mais bonitas e a fonte com mais mais olhos d'água. Sabia também de uma clareira com uma árvore enorme que tinha um galho que mais parecia uma cama. Ela ia lá sempre que queria ler muito. Na verdade, Naná não lia nada, mas adorava pegar livros e livros para ver as imagens rodeadas por pequenos rabiscos que sua mãe já havia lhe dito que se chamavam letras. O próprio nome Naná já escrevia: era fácil de decorar porque só tinha dois símbolos pra aprender. A palavra "mãe" ela também conhecia, mas como nunca precisou escrever um único bilhete para a à mãe, estava quase esquecendo da ordem das letrinhas.

Entre tantas brincadeiras que tinha aprendido, a que mais gostava era esconde-esconde. Nunca perdia! Até em toca de coelho ela entrava, porque sabia quais estavam vazias e quais ainda abrigavam a família de coelhos. Ela explorava os troncos ocos de árvores, os galhos fáceis de subir, os barrancos, todos os cantos da fazenda ela conhecia. Ela sempre precisava descobrir novos esconderijos, pois como brincava sempre com a mãe, esta já tinha decorado alguns e por isso Naná precisou tirá-los da sua lista de boas opções.

Tinha uma senhora bem velhinha que morava na fazenda do lado. Dona Zuleica. Como a casa dela era bem pequena, a menina a ajudava a cuidar. Não era muita coisa, não: somente a horta era atividade dela, o que fazia com muito prazer. Em troca, a velhota a ensinava sobre histórias de muito antigamente, histórias que nem mesmo a mãe de Naná conhecia. Ela contava sobre piratas e tubarões, sobre reis, príncipes e bandidos e sobre muita gente que ela mesma tinha ajudado ao longo da vida. Os chás mais fortes era a senhora que havia ensinado à Naná e sempre que sua mãe ficava um bocado doente, a menina tirava umas folhas daqui, fazia um preparado dali e logo a mãe estava de pé de novo, sem um sintoma nem de resfriado.

Naná sonhava dormindo e também acordada. Nos sonhos que tinha à noite, ela lutava contra os bandidos sobre um cavalo, empunhava uma espada, com colete de argolas de ferro, com botas de couro e capacete de metal forte. Sonhava que defendia a rainha do castelo e jamais tinha perdido uma batalha. Ela compunha o exército de uma mulher só. E sempre sonhava bem parecido com as histórias que Dona Zuleica contava. Quando de olhos abertos, Naná que era a princesa: tinhas vestidos lindos que sua mãe costurava, banquetes de frutas todos os dias, uma cama inteira só para ela e um jardim que parecia mesmo de palácio de princesa.

Naná não sabia o que era um negócio que chamavam por aí de dinheiro. Até onde sabia, era um pedaço de papel que algumas pessoas achavam que era muito importante. Um dia passou um homem montado em uma charrete que estava oferecendo para a mãe de Naná uma caixa de madeira e metal que falava, mas logo a mãe disse que não queria. Quando a menina perguntou o que a tal caixa falava, o moço respondeu que falava de tudo e que até cantava! Como a menina sabia um montão de músicas, imaginou que soubesse até mais que a tal caixa e não quis nem saber. O homem foi embora achando que as duas eram muito esquisitas...

Naná era uma menina com a pele queimada de sol, mas muito bem hidratada pela água pura do lago. Seus cabelos longos e castanhos eram ondulados como o da mãe, compridos até a cintura. Viviam soltos e bem penteados, pois eram o orgulho da menina. Unhas sempre cortadas, dentes brancos como leite e olhos castanhos da cor da terra. Sua mãe dizia que era os olhos do pai, que Naná nem chegou a conhecer, nem por foto.

A menina comia de tudo, brincava e falava de tudo. E falava o tempo todo. E também com todas as coisas. Falava com formiga, com semente, com panela, com portão.
O dia em que sua mãe virou estrela, ela começou a falar também com o céu.

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