segunda-feira, 27 de setembro de 2010

BISCOITOS DA VÓ JANDIRA

 
Justo naquela tarde ele aparece. E Álvaro realmente queria comer toda a fornada de biscoitos. Restava só um punhado deles, mas sabia que sua mãe ficaria muito brava se comesse tudo. Mas ela nem conhecia a sensação de comer biscoitos porque vivia em dietas (e dietas não permitem biscoitos).

Pra que vocês entendam a gravidade da coisa: tratava-se dos quitutes da melhor cozinheira de todo o mundo, que era a vó de Álvaro, Dona Jandira. Ela tinha mãos de ouro! E só visitava o menino uma vez por ano. Ele ansiava meses e meses por aquele cheirinho, aquele sabor irresistível. Era capaz até de comer duas, três receitas seguidas!

Na soleira da porta, parado, Álvaro só conseguia achar que foi a sorte sua mãe não ter atendido à campainha naquela vez. Sabia lidar com as crianças, pois ele mesmo era uma. Sua mãe, não; ela só sabia dar broncas. Já pensou se ela encontrasse o filhote de crocodilo ali, batendo à porta aquela hora? Atrapalhar a sessão da tarde que ela tanto gostava só para pedir biscoitos seria um motivo e tanto para um bom castigo...

Isso não importa agora. O fato é que os dois, Álvaro e o crocodilo ainda estavam na porta, parados: um querendo biscoito e o outro pensando se ia dar ou não.

Aos poucos, o menino foi se decidindo quanto ao pedido: lembrou do quanto era gostoso o momento da mordida que sempre trazia uma sensação diferente. E aqueles eram, justamente, os biscoitos fresquinhos feitos pela vó Jandira.

Sem fazer barulho, Álvaro começou, então, a andar para trás, passou o batente, se agachou, colocou o pote de biscoitos no capacho e fechou a porta.

É que Álvaro sabia que toda criança, ainda que seja criança-crocodilo (ou crocodilo-criança), merece e precisa comer biscoitos. Ainda mais quando são os biscoitos da vó Jandira.

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