quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Sempre 12 anos



Pra mim, você terá sempre 12 anos; sempre aquela cara de sapeca. É, uma cara de menina espoleta, menina que corre, brinca, pula, imagina, canta, dança, conversa... cara de menina que gosta de ser menina, que gosta de ser do jeito que é e não quer mudar não!

Pra mim, você será sempre estabanada, sempre arteira e brincalhona. Vai derrubar tudo o que encontrar pela frente: vasos da vó, vassouras, controles remotos, copos e balas da própria boca. Ainda que chore muito, você sempre terá a alma de alguém sempre alegre e sorridente, de gargalhada contagiante, mas de piadas sem graça de “Joãozinho”.

E para mim, as nossas roupas serão sempre iguais, mas eu sempre vou querer pegar as suas emprestadas, porque elas têm cheiro!! Não consigo explicar, mas é diferente e, afinal, são suas! E os seus brinquedos também serão sempre mais legais que os meus. Mas como você vai pensar da mesma forma (que os meus brinquedos são melhores que os seus), vamos trocar nossos brinquedos e vamos brincar a tarde toda!

Vamos falar do que aconteceu na escola e sentar no quintal para pintar nossas unhas com meu esmalte azul. Então, é neste momento que nosso “saquinho de risadas” vai se abrir e não vamos conseguir conter tanto riso, tanta felicidade! Claro que vamos escutar algumas broncas, mas logo já teremos esquecido e vamos continuar dando nosso escandaloso e inconfundível riso.

E por mais que você tenha uma pequenina de 5 anos, você não vai deixar de ter seus 12 anos! Ainda que já trabalhe (como eu!), que tenha Fundo de Garantia!, que more sozinha, que tenha tomado outro rumo na vida e nós já não tenhamos mais tanto contato, seus 12 anos estarão estampados para sempre em seu rosto. Esses seus olhos verdes e brilhantes jamais vão permitir que eu apague da memória seu jeitinho meigo – mas mandão! – de ser você mesma.

Boracéia vai sempre lembrar dos nossos “funerais de formigas”, as pedras do cantão vão eternizar nossos passos e o rio Coca-cola vai guardar cada vez que derrubamos um barranco de areia. Ilhabela vai manter segredo dos nossos segredos e Serra Negra vai ter a honra de oferecer as tardes de calor na casa da nossa bisavó.

Você vai ser sempre a Taia e eu serei a “feia”. E eu não vou ligar, porque sei que não é de verdade, porque depois disso a gente vai passar a noite toda jogando Veredicto e cantando Exaltasamba, fazendo as mais doidas paródias que já ouvi. Isso sem contar as tardes inteiras assistindo “Branca de neve” e “O Rei leão”, acompanhando outra pequena que também não cresce.

Eu vou eternizar os seus 12 anos na memória e jamais vou esquecer de um segundo sequer. Vou eternizar essa época de nossas vidas, mas não porque ela tenha sido a mais bela, nem porque você era minha super amiga, mas porque você conservou o sentimento que tínhamos uma pela outra como se o tempo tivesse parado ali, naquela época.

E isso se fez possível porque sempre que nos víamos era como se tivéssemos essa idade. O nosso elo se tornava visível a cada encontro e nada mudava, por mais que anos tivessem se passado. O carinho era o mesmo, o tratamento era o mesmo, as risadas, o brilho no olhar e a força dos abraços... Era tudo sempre igual! Você é uma das duas únicas pessoas que consegue essa proeza, de ser sempre a minha “amiga de sempre”...

Nós tinhamos a beleza de irmãs, quando uma complementava a outra em tudo: você amava feijão e eu só comia arroz; e quando você tirava a salsicha do seu cachorro-quente, eu pegava pra mim. E o molho do macarrão?, que eu colocava o dobro no meu prato, enquanto você delirava no macarrão sem molho... Você ficava no café com leite e eu no leite com chocolate. Eu era maionese e você era mostarda. Mas em uma coisa combinávamos: sempre deixávamos pedacinhos de pão no pote de margarina, porque fazíamos questão de não usar faca, e sim, passar o pedaço do pão direto na margarina. Mas você era a casca; eu, o miolo.

Vejo em você muito de mim. Vejo toda a minha infância, todas as minhas alegrias, todas as minhas artes. Meus segredos estão com você, debaixo das famosas sete chaves, no seu lado esquerdo do peito. Isso talvez seja mais um reforço para que você continue transparecendo seus adoráveis 12 anos. Nem seus cabelos vermelhos, nem seus grande colares de estrela, nem seu 1,78cm vão mudar isso... Em mais da metade da minha vida, quase que em tempo integral, você está presente e é competamente impossível apagar isso.

Independente de sermos em 6 crianças da mesma idade, todas nascidas em 1985, não havia ninguém mais unido que nós duas; ninguém superava nossa ligação. Em nossas brincadeiras de montar códigos e planos mirabolantes, éramos profissionais! Não precisávamos de uma palavra sequer para nos fazermos entender uma à outra. Éramos invencíveis...

Você não era de escrever, não... Nunca foi; ao contrário de mim, que adorava cartas e mais cartas. Mas nós duas amávamos música! Então, às vezes, você me saía com umas letras transcritas na sua caligrafia, em folhas de caderno todas decoradas. “...Não chora, amor dos outros, não chora...”. É isso que ouço de você hoje; apesar de sempre me dizer que “o amor te enoja”, você também disse que ele, o amor, era uma loucura maravilhosa.

Já tivemos até o sonho de formar uma dupla sertaneja, que cantava Leando e Leonardo e Zeé de Camargo e Luciano. Transcrevíamos todas as letras no computador, mas éramos ecléticas! Claudinho e Bochecha, Gabriel, o pensador, Racionais, Fundo de Quintal... Todos esses faziam parte do nosso repertório. Passávamos tardes e tardes montando os arranjos de vozes para cada uma daz músicas. E ensaiávamos música por música!, o que era o momento mais mágico de todos.

Talvez nossas últimas confidências tenham sido um “papo de gente grande”. Em vez de falarmos de bicicleta, de adesivo das Chiquititas e do desenho do Doug Funnie, falamos de filhos e casamento. Eu te confessei que você realizou o meu sonho de ser mãe quando engravidou da pequenina; você, por sua vez, me confessou que estava realizando o seu sonho quando casei. Até em coisas de adultos nos completamos...

E é assim estamos neste momento, nos completando novamente: eu na terra e você no Céu... Você no céu como uma estrela, dentre milhões, mas sendo a mais brilhante e a única, de todo o universo, a ter longos cabelos vermelhos...

Com apenas 12 anos, você se tornou a estrela mais linda e mais brilhante e, eternamente, com cabelos vermelhos.

Nunca escondi meu carinho por você e você também nunca deixou de fazê-lo. Éramos choronas quando tocávamos no assunto e não tínhamos a menor vergonha disso. Sempre falei que amava você e você, idem. Era uma realidade constante e certamente verdadeira para nós. Mas ainda cabe, aqui, neste momento, mais uma vez, só para reforçar: Amo você, Taia!

Fique com Deus, minha menina de 12 anos...

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