segunda-feira, 27 de julho de 2009

Janela para o mundo: “Brasileiros mundo afora”


“...Agora é hora de você assumir e sumir...”

Sumir pelo mundo é a vontade cravada de muitos jovens. Alguns desejam sumir para curtir, conhecer todos os lugares de cada país; outros querem estudar, pesquisar, fazer as vezes de um real historiador; outros querem trabalhar, ganhar dinheiro rápido...

Muitas pessoas literalmente “se aventuram” pelo mundo, como “um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco... e vindo do interior”, em busca da sorte, da famigerada grande chance da vida inteira. Mas, se já não é fácil para um brasileiro viver no seu próprio país, onde a língua e cultura são conhecidas, imagine morar num país como Canadá e Holanda, em que nada nos é familiar?

O Blog traz a janela do Gustavo Yoshida, fotógrafo de profissão que, aos 26 anos de idade (hoje com 30), teve a chance de viajar a trabalho e morar em lugares como Japão e Austrália. Sempre com o apoio dos pais - mas com suor próprio -, Gustavo saiu do Brasil em 2005 e hoje nos conta um pouco do que passou e do que aprendeu com a cultura e rotina de países tão opostos.

Em sua entrevista, ele nos fala um pouco das diferenças e das superações de estar sozinho num local desconhecido, buscando trabalho, sofrendo preconceito e tendo que começar a vida do zero. O que mais sente falta? O que mudaria? Como se adaptar?

Vamos conferir?


O Mundo em uma Janela - Tudo precisa de um pontapé inicial. No seu caso, como se deu esse momento? Qual foi o primeiro passo que você deu para iniciar a sua vida no exterior?
Gustavo Yoshida - Pra ser sincero, não sei exatamente quando, mas acho que desde a minha adolescência eu já comecei a pensar em morar fora, mas claro, não tinha recursos financeiros pra começar a arrumar as malas e também não queria dizer: "Papai, financia a minha viagem?" Então tive que esperar um pouquinho (ou um poucão, porque só fui morar definivamente fora aos 26 anos).


OMUJ - Sair de casa é sempre como começar uma vida do zero. Se dentro do próprio país qualquer atitude já exige grande esforço, fora dele, em que o ambiente é completamente distinto, qual o tipo de “sacrifício” foi necessário para realizar o investimento de morar fora do país?
GY – Literalmente, eu imaginei a minha vida começando do zero no Japão, quero dizer no sentido financeiro. Eu disse pra mim mesmo que não iria gastar o que havia conseguido no Brasil e ainda teria que pagar a minha passagem aérea (que não é barata) numa viagem como essa. Então comecei a trabalhar logo que cheguei lá. Sem dúvida que no começo foi difícil, não dominava completamente o idioma e muito menos a cultura, mas eu consegui me adaptar rápido.


OMUJ - A adaptação é sempre um tabu. Ainda que com conhecimento de língua estrangeira universal (como é o inglês), o Japão é um país muito peculiar em seus princípios, costumes e até mesmo crenças. Para você, esse período foi turbulento? Quais as dificuldades que você viveu nesse período?
GY – Para mim, o idioma nem é tanto o maior desafio, porque atrás do idioma está a cultura. Vou explicar isso dando um exemplo da língua x cultura. No Japão, se alguém lhe convida para alguma reunião ou jantar e você recusa, não precisa dar explicacões, somente dizer que tem outro compromisso e a pessoa nunca irá lhe questionar: Aonde? Com quem? Que horas? Seria até falta de educação. Já aqui na Autrália é comum as pessoas, quando recusam algum convite, explicar exatamente o motivo de não poder ir. Faz parte da cultura e principalmente da língua inglesa, que é baseada em fatos.


OMUJ - Por chegar no Japão sem conhecer quase nada da língua e cultura, passou muita vergonha? Qual o maior mico que pagou por não ter intimidade com o país?
GY – Comprei detergente pensando ser óleo de cozinha...


OMUJ - Você não só morou no Japão, como também na Austrália (local em que vive atualmente). Apesar da pouca distância física entre ambos os países, novamente há uma distância cultural. Houve um novo choque em ir para um país que partilha de características de um país tropical como o Brasil? É como estar em casa?
GY – A Austrália é definitivamente um Brasil que deu certo. Os australianos são muito parecidos com os brasileiros, são muito amigáveis e bem humorados. Não tive problema nenhum em me adaptar aqui.


OMUJ - Durante quanto tempo morou no Japão e Austrália?
GY – Foram 3 anos no Japão e, até agora, 5 meses de Austrália.


OMUJ - Qual é a barreira mais difícil de ser transpassada quando se vive no exterior? Você acredita que, por ser brasileiro, as dificuldades foram intensificadas por parte dos nativos?
GY – Infelizmente, em todo lugar existem pesssoas boas e más... Aqui não é diferente, tem muito brasileiro que acaba estragando a imagem de pessoas sérias que moram aqui, mas é nosso trabalho provar que temos uma personalidade boa, de confiança.


OMUJ - Se fosse possível colocar na balança as dificuldades e as conquistas que você viveu até a data de hoje, o que teria mais peso? Se pudesse voltar no tempo, faria tudo de novo? Quais pontos você gostaria de mudar (seja para melhorar, seja para eliminar)?
GY – Faria tudo de novo umas 10 vezes! Não me arrependo de nada, um bom planejamento já é meio caminho andado.


OMUJ - Você fala sobre planejamento. Qual o próximo lugar que planeja morar?
GY – Não penso em morar, mas visitar a Europa toda. Fiz muito amigos europeus aqui, tenho casa pra ficar em toda a Europa.


OMUJ - Todo bom brasileiro é cheio de manias e jeitinhos. Desde o modo de falar até a culinária, certas coisas o brasileiro jamais esquece. Do que mais sente falta do Brasil que não encontra mundo afora?
GY – A culinária da "mamãe!"


OMUJ - O brasileiro sempre dá um “jeitinho” para todas as adversidades que encontra. Isso funciona no exterior? Como é a relação de trabalho entre pessoas de nacionalidades diferentes? Quais foram as dificuldades para realizar suas atividades profissionais?
GY – O japonês é definitivamente um "WORKAHOLIC", pessoa que coloca o trabalho acima de tudo. Para mim, foi muito difícil tentar entender isso. Digo entender porque cultura não se questiona, apenas se "tenta" compreender. Eu penso totalmente diferente dos japoneses, mas jamais tentei impor minhas idéias ou conceitos. Já aqui na Austrália é bem mais tranquilo, o trabalho aqui talvez esteja em terceiro plano! Ou quarto!


OMUJ - Você disse ser fotógrafo de atuação. Você saiu do país atuando nesse ramo, buscando se desenvolver nessa profissão ou foi uma escolha de "sobrevivência"?
GY – Foi simplesmente paixão!


OMUJ - O preconceito é algo que se vê no dia-a-dia com a mesma freqüência que se vê no Brasil? Os estrangeiros sofrem com limitações sociais e profissionais?
GY – Sem dúvida, mas eu acho isso normal. Preconceito não significa maus tratos; eu acho que a palavra certa seja prioridade. Claro que os nativos devem ter prioridade na hora de conseguir o emprego, seria o mesmo se isso acontecesse no Brasil: imagine se começam a dar prioridade para os estrangeiros. Eu encaro isso como um desafio, pois tenho que provar que sou melhor que um japonês ou australiano na hora de conseguir o emprego.


OMUJ - Se hoje você tivesse no Brasil as mesmas condições de vida que tem no exterior, voltaria a morar e trabalhar aqui? Quais os motivos que te levariam a tomar a decisão escolhida?
GY – Agora a minha resposta é NÃO. Não voltaria pro Brasil agora, ainda estou vivendo minha experiência no exterior e este momento está sendo o ápice. Preciso aproveitar ao máximo. Atualmente é uma grande questão em minha vida: Quando voltar?


OMUJ - Pelas condições desiguais de trabalho que existem no Brasil, você acredita ser mais bem reconhecido no exterior? Vemos todos os dias artistas da música e das cênicas, por exemplo, que se queixam do pouco reconhecimento e incentivo que possuem no Brasil. Trata-se de clichê ou é uma realidade?
GY – É uma realidade clara. Aqui todos são iguais; se você é garçom ou gerente de banco tem as mesmas possibilidades financeiras (claro que um gerente de banco aqui pode comprar uma lancha, mas o garcom consegue comprar seu bote pra pescar no final de semana...).


OMUJ - Para quem está há tanto tempo fora, o país de origem se tornou um local de passeio e descanso? Qual a visão que hoje você tem do Brasil?
GY – Agora se tornou um país para passar férias, rever os amigos e família. É estranho isso... Mas interessante.


OMUJ - Qual sua maior vitória nesses 4 anos que mora no exterior?
GY – Não digo vitória, mas conquistas pessoais, como adaptação, paciência e uma "pessoa": DEUS.


OMUJ - Valeu a pena?
GY – (Pensativo) Não valeu: ESTÁ VALENDO! CADA SEGUNDO!!!

O Blog agradece Gustavo Yoshida pela dedicação do seu tempo, pelo carinho e pelas palavras oferecidas!
Se você tiver alguma pergunta para o Gustavo, que tenha relação com a entrevista apresentada pelo Blog, deixe um comentário que logo logo ela estará com a resposta aqui, fresquinha!
Obrigada!!

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