sábado, 18 de julho de 2009

É fresquinho ou vende mais?


Essa semana li uma reportagem que tratava sobre música e poesia. O “X” da questão era se essas duas artes, eram, na verdade, a mesma coisa. Se música é uma forma de poesia e se poesia é uma forma de música.

Nomes consagrados do meio da música, como Tony Belloto e Juca Chaves, disseram que não: que cada uma deve permanecer no seu próprio quadrado, apesar de viverem em parceria. E eu, depois de muito pensar e discutir com um grande amigo, cheguei a conclusão de que, novamente, discordo. Discordo e vou dizer o porquê.

Para que seja possível entender o aspecto que quero tratar, é preciso que se abandone todo e qualquer conceito de música e poesia. E para esclarecer, considero música todo e qualquer tipo de som, seja ele solo ou produzido em arranjos, com ou sem letra acompanhando; considero poesia todo e qualquer conjunto de palavras que traga uma mensagem, que não precisa conter sentimentalismo nem rima, mas que seja uma forma de expressão.

Pela visão terapêutica da coisa, sabemos que tudo o que chega até nós nos causa alguma sensação, qualquer que seja ela, e nos remete a algum ponto, ainda que seja uma tela em branco. Como nosso cérebro não pára, é impossível dizer que música de Beethoven não nos cause nada, bem como dizer que poesia de Enem não traga nenhuma idéia. Por mais que não tenhamos absolutamente nada esclarecido em nossa mente, algo ocorreu.

E é desse “algo que ocorreu” é que precisamos partir para chegarmos ao “X da questão”. Mesmo que a música seja instrumental, ou possua apenas três notas, ela nos causa aquele “algo”, ou seja, teve uma mensagem que foi recebida. Da mesma forma a poesia que tenha duas palavras ou que consista na repetição da mesma idéia: ela também vai trazer aquele “algo” e nos fará crer que uma mensagem foi passada.

E assim eu junto ambos os “algos”, da música e da poesia: toda música é poética, ainda que ausente de palavras; toda poesia é musical, ainda que ausente de som. A música, por transmitir uma sensação, transforma-se em poesia; a poesia, por sua vez, por possuir o ritmo das palavras, torna-se música. Isto é, são levadas pela mesma intenção, pelo mesmo propósito.

E posso transferir esse princípio também para as artes visuais, como as artes plásticas e a movimentação corporal, por exemplo. Ao ver um quadro, quem vai negar de ter uma sensação, ainda que seja de interrogação? O corpo, por acaso, não se comunica com seus gestos em uma dança, mesmo que esta não carregue uma música de fundo?

Quem vai dizer que não há poesia na expressão visual do quadro “O Grito” (Edvard Munch)? Quem vai dizer que não há música nele? Quem vai dizer que um espetáculo de “dança muda” não comporta a música corporal? Quem vai negar a poesia do espetáculo?

Não preciso dizer que amo meu marido, basta olhá-lo. E só porque não disse uma palavra sequer ele pode alegar que não acabei de dizer milhões de coisas? Só preciso tocá-lo no rosto para ouvir a música das estrelas, ainda que eu esteja num quarto completamente silencioso. E não houve música nisso tudo?

A poesia é parceira da música, e vice-versa. Elas se complementam, se entrelaçam, se consomem. Existe cadência num poema e existe rima na música. Basta sensibilidade para entender. Basta ouvir a música com a alma, não com os ouvidos; basta ler o poema com o coração, não com os olhos.

E quem vai dizer que este texto não é uma canção??


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