sexta-feira, 26 de junho de 2009

Enquanto isso, no Tribunal de Justiça...


Meus queridos, peço a atenção de vocês hoje para um desabafo. Quero fazer algumas considerações sobre o dia estafante que tive hoje (25/junho) e por toda a carga de responsabilidade sobre a vida de pessoas como eu.

Em primeiro lugar, gostaria de deixar bem claro que sou secretária por opção de profissão. Tive a felicidade de viver numa época na qual as pessoas escolhiam a profissão que queriam seguir. E que talvez eu tenha escolhido essa profissão por gostar das atividades e atribuições conferidas ao seu profissional.

Bem, assim sendo, acredito que não tenha habilidades técnicas ou psicológicas para atuar como médica, engenheira ou ainda vendedora. Claro que disponho de algumas características que as pessoas dessa profissão necessitam ter: boa ouvinte, concisão e jogo de cintura. Todas elas juntas não de dão a capacidade para exercer as profissões relatadas acima, a não ser a de secretária mesmo...

E como secretária, preciso ser democrática, preciso ser, acima de tudo, justa. Pois se um dia precisar intervir em favor de um funcionário contra o próprio chefe, preciso saber avaliar a situação e discernir até que ponto a verdade impera no discurso de cada um. Como se fosse uma juíza de tribunal de justiça... Ou mais: praticamente parte integrante da banca de jurados de um tribunal de justiça.

Imaginem que a vida de uma pessoa está nas suas mãos: ela pode ser demitida ou ganhar uma promoção; ela pode ser presa ou ganhar a liberdade e isso, meus caros, quem decide é você. Tarefa árdua é ter o destino de alguém nas mãos... Se eu mal sei guiar o meu, que dirá decidir pelo destino do outro!, pelo futuro que ele viverá sabe Deus Pai por quanto tempo dessa vida... Sabe-se lá se vai viver carregando um fardo que eu decidi para a vida dele!

Claro que na posição de secretária isso não parece ter tanta relevância, pois situações como a qual eu citei, nessa profissão, são raras: o chefe é o cara que decide e nós só vamos em frente com os procedimentos que se fizerem necessários. Entretanto, já com o jurado do tribunal, a postura não é a mesma.

Só para critério de esclarecimento: o formato do julgamento de crimes no Brasil (principalmente os crimes considerados de violação à vida) não tem o mesmo formato que existe nos EUA: não há discussão entre jurados, o juiz atua somente como um mediador e não existe aquela situação que o Sr Exmo Juiz aceita o protesto de uma das partes contra o discurso da parte oposta. No Brasil a coisa é sigilosa, pois é o juiz quem também anuncia a pena depois de cada jurado depositar seu voto, sigilosamente, na urna que é apurada em sala secreta.

Mas que direito tenho eu, caros, que capacidade técnica para avaliar fatos, testemunhos e situações numa situação de crime contra a vida, de um réu confesso de um homicídio doloso duplamente qualificado?? Tenho eu idoneidade para ser honesta nos meus pensamentos e buscar trazer a justiça a tona, isso eu tenho. Mas não tenho, amigos, a capacidade de validar se aquelas provas apresentadas são suficientes para dizer algo sobre uma pessoa, sobre um crime!

Pelo amor de Deus, me ouçam! Talvez eu não esteja no nível de responder às expectativas que a Justiça Federal faz de mim no papel de jurada, pois eu discordo da acusação, mas discordo também da defesa. Eu fico em cima do muro!, e gostaria que nos papéis de “sim” e “não” na sala secreta também tivesse um “depende”, pois eu faria questão de reiterar meu voto com um “depende muito, Mmo Juiz...”. Porque depende mesmo! É tanto “e se...” que não dá para depositar meramente um “sim” ou “não” na urna.

Uma coisa é julgar Nardoni, outra coisa é um zé mané com “poblema de cabeça”, como dizem uns e outros. Por mais que o réu seja confesso, a posição de um jurado não é fácil, não é simplesmente estar lá: tudo ocorre em função do jurado, pois são eles, em conjunto que vão decidir o que será da vida daquela pessoa que, de repente, seja inocente.

Pensem nisso, meus camaradas. Pensem primeiro o quão difícil seria se tivéssemos que julgar a nós mesmos. De fato, fazemos isso todos os dias, mas somos completamente parciais e queremos sair privilegiados de todo o processo, seja ele qual for. Se não somos justos a começar pela nossa própria vida, o que nos garante que o seremos com outra?

Mas já completei 6 pontos... Só no ano que vem, de novo.

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