segunda-feira, 29 de novembro de 2010

CHÊRO DE PÔRCO - História de Matuto II

Eu escuitei tudim, dona, escuitei o grito, quando a portêra abriu e escuitei tamém a portêra batê quando fechô. Vê mêmo, assim, num vi, não sinhóra. É que eu táva de costa pra de onde veio o grito, num deu tempo de virá e oiá. Quando oiei a portêra tava fechadinha, iguar eu tinha dexado ela de manhã. Eu num queria tê ido lá não, dona... Vai que o danado que tava fazendo arguma coisa visse que eu tinha visto ele fazendo o que tava fazendo lá? Coitadim de mim!

Mais que eu fui lá, isso a sinhóra já sabe, né. Larguei as vaca, os boi tudim lá no curral e subi pra cima da cochêra dos cavalo. Pois quando eu cheguei lá, num tinha nenhum cavalo, nem vivo nem morto! Se era pra tê? Diacho, que era, dona! Um monte deles! Tinha uma égua que inté tava prenha... Só num sei se o danado sortô ou se robô tudo os bicho, prusque se tivesse matado num ia dá tempo de levá embora, não. Isso eu te dô certeza que num ia.

Quando tem que matá os cavalo, é mais triste, sabe? Cavalo é bicho bão demais, dona! O coitado sofre muito prá morrê... Tem que amarrá as pata, derrubá o bicho no chão e dá a tar facada no peito... Pode inté derrubá com paulada na cabeça, mais tem que sê paulada certêra e forte. Tem uns coroné que mata só com injeção, mas isso é mardade e nóis num faiz isso não. É na facada mêmo... Prá módi morrê honrado, sabe, dona?

E se eu falo pra sinhóra que num mataram nenhum, é prusque num tava com chêro de porco, dona. É que sangue seco na páia tem chêro de porco. O dia que nóis matá porco vô guardá um pôco de páia suja de sangue seco prá sinhóra cherá, vai vê que tô falando coisa certa.

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